" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

20/09/2013

Trilho de Secelo e Preguiça


Sempre sentimos curiosidade por este trilho, e a razão do seu abandono.Tínhamos a indicação que tinha sido uma antiga PR e que acompanhava o rio Gerês, por ambas as margens, atingindo, no seu ponto mais distante, Secelo, daí o nome do trilho, na estrada que liga a vila à Portela de Leonte. Começamos no parque de estacionamento do Vidoeiro e seguimos por um estradão florestal que acompanha a margem esquerda do rio Gerês, contornando o parque de campismo. Ao longo do trilho ainda são visíveis algumas marcas do antigo PR.  A partir de um dado momento o trilho bifurca-se em dois caminhos, um com grande pendente em direcção à casa florestal de Lamas e outro descendo para o rio, atravessando-o por uma ponte de madeira. A partir deste ponto poderíamos ter retornado mas, devido à pouca extensão do trilho, resolvemos fazer a ligação com o trilho da preguiça. Daí descemos até ao rio Gerês desfrutando da frescura do rio. O retorno fez-se por antigos caminhos/trilhos até ao parque de estacionamento do Vidoeiro.

Para quem ainda não tem a noção do perigo que representa para o Parque Nacional a infestação das  mimosas aconselhamos que percorra este trilho, pois percorre uma grande floresta de mimosas, algumas já com o porte de grandes árvores. Do coberto florestal original pouco resta, a mimosa não permite o crescimento de outras espécies.  

A introdução de espécies de Acácia (mimosa) no Gerês teve início em 1897-98, com a plantação em diversos locais do perímetro florestal de 550 pés de acácias pelos antigos serviços florestais com o intuito de reflorestar e segurar as encostas* “que ao tempo se encontravam desnudados na sua maior parte”. "Em Setembro de 1989 deflagraram no PNPG dois incêndios florestais de grandes dimensões: um com origem no lugar de Bouça da Mó, junto à albufeira de Vilarinho das Furnas, freguesia de Campo do Gerês, outro com origem na encosta do Romão, freguesia de Vilar da Veiga, que lavraram na serra durante dois e três dias, respectivamente. A área afectada atingiu um total de 2650 ha, constituída sobretudo por pinhais de Pinus pinaster - alguns com um século de idade -, e pinhais de Pinus sylvestris. O fogo afectou também um número incalculável de carvalhos centenários na mata de Albergaria, e percorreu a encosta da Pereira, onde havia sido plantado entre 1898 e 1905 o primeiro núcleo de Acacia dealbata."*O incêndio de Setembro de 1989 foi reconhecido como “facilitador” da invasão, pelo estímulo à rebentação da planta, e pela remoção da cobertura vegetal (Silva & Baptista, 1989).

A situação actual é de catástrofe anunciada pois toda a margem  esquerda do rio Gerês, encosta da Pereira e Costa de Istriz é dominada pelas mimosas, ameaçando o ex libris do parque, a mata da Albergaria. Detectamos vários núcleos de mimosas ao longo do trilho da geira e demos o nosso pequeno contributo para a erradicação de alguns pés. Neste momento já nem se discute a eliminação das mimosas,  "o trabalho de Sísifo", mas a limitação da sua expansão. Infelizmente não parece ser esta uma prioridade do PNPG.

Ficam algumas fotos do dia.
Até à próxima.


*retirado da Dissertação de Mestrado de Manuel José  da Silva Miranda Fernandes
 "RECUPERAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁREAS INVADIDAS POR ACACIA DEALBATA LINK NO VALE DO RIO GERÊS: UM TRABALHO DE SÍSIFO?"


Rio Gerês

Costa de Istriz










Fezes de raposa?


1 comentário:

  1. Olá amigos,

    - É sempre com enorme prazer que leio os vossos posts. Os textos, escritos de uma forma simples e didáctica, fazem com que a malta não só aprenda sempre algo de novo, como acima de tudo compreenda na perfeição o tema abordado. O meu sincero agradecimento pela forma como "gerem" o vosso blog.
    - Em relação ao tema das mimosas propriamente dito, de facto elas estão em vias de entrar literalmente pela Mata de Albergaria adentro. Quando isso acontecer, e não se fiem os "crentes" de que isso nunca irá suceder (para mim é apenas uma questão de alguns poucos anos), vamos ver com que aspecto a denominada "jóia da coroa" vai ficar. Certamente que perderá (todo) o seu brilho. Se recuarmos alguns anos atrás, certamente conseguimos lembramo-nos de como era todo o vale do Rio Gerês. Apesar do coberto florestal ser composto maioritariamente por várias espécies de pinheiro, ele mantinha uma dignidade notável, principalmente visível a partir do Vidoeiro. A "invasão" das mimosas e os fogos florestais do Verão de 2010 tornaram este lindo postal do PNPG numa espécie de imagem verdadeiramente reflectora do nosso único parque nacional. Lentamente, toda a riqueza natural (e humana) do parque vai-se perdendo irremediavelmente. De quem é a culpa? Dos responsáveis do parque? Certamente. E que dizer da gestão dos autarcas das regiões que se encontram dentro dos limites do parque nacional? E a falta de educação ambiental por parte da esmagadora maioria dos turistas? E o uso abusivo e recorrente ao fogo para (des)controlar as zonas de pastagem por parte dos pastores locais?
    - Desculpem lá este meu comentário longo e aborrecido, é que estava a precisar de deitar tudo isto cá para fora...

    Um Abraço Montanheiro,
    Pedro Durães

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