" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

30/01/2011

Por brandas e miragens do Ramiscal (Peneda )




Neste pequeno e precioso parque nacional, há muitos locais onde podemos "perder" o nosso fôlego só de contemplar os pequenos grandes recantos e encantos que ela possui.
Não é de admirar que dou por mim a comentar muitas das vezes, que ainda há muito para ver, e que irei partir sem conhecer tudo!
No dia 22 de Janeiro fomos fazer um trilho que passou muito perto do imponente vale do Ramiscal. Há muito que oiço falar deste local, a mata preciosa do Ramiscal um dos 3 locais totalmente protegidos do PNPG, onde infelizmente também não foi poupado de um incêndio em 2006. Por ainda não a conhecer, possivelmente não sinto o mesmo impacto e o mesmo desgosto de quem a conhece bem, mas dá para imaginar o desgosto que prevaleceu.
Há locais que são insubstituíveis, com espécies centenárias que desaparecem, com animais que há muito lá habitavam, uma perda que aperta o coração e fere a alma. Este local é um deles.
Para os entendidos e especialistas na matéria da fauna ou da flora, é mais um sítio para pesquisar...ou talvez não...parece esquecido! Para os senhores dos gabinetes é mais uma parcela de terreno nacional que foi à vida!...paciência ela continua, desde que não falte os bifes e o bom vinho de mesa. Mas para os que são da terra e para os que não o são mas que a amam, esta é uma perda que nem um diamante bruto substitui.
Neste dia de muito frio, o céu estava limpo e azul, mas o vento e as rajadas fortes não nos pouparam a partir do meio da manhã! Mesmo assim foi um trilho fascinante e valeu a pena só pela miragem do vale do Ramiscal e por toda a experiência vivida em conjunto. Foi só um "cheirinho" mas um dia havemos de lá ir novamente!
Local da partida

Aldeia de Lordelo








Uma águia pairava graciosamente sobre o vale, chegámos a avistar três!

Uns dos locais em que o trilho estava nítido


Vestígios de um animal menos afortunado


Pequenos lagos apetecíveis...mas só no tempo quente!

Uma parte do imponente vale do Ramiscal
Não são pepitas de oiro que procuro.
O Rio vai corroendo lá no fundo
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza                                               
Do homem que resolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.






Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna

De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.
                                        - Miguel Torga-
" Um berço de granito, com a manta do céu a cobrir-lhe a nudez! "


Grande parte do trilho estava tapado, possivelmente devido ao antigo incêndio...










Casa abrigo




O gelo era uma constante


Interior da casa abrigo


Que bem que soube este momento, sem o vento a massacrar os nossos ouvidos!







Lindas esculturas de gelo!

Belos Garranos





E um belíssimo por-do-Sol a terminar o nosso dia!

4 comentários:

  1. "Há locais que são insubstituíveis, com espécies centenárias que desaparecem, com animais que há muito lá habitavam, uma perda que aperta o coração e fere a alma, este local é um deles."

    Esta é a frase que ilustra bem o sentimento de quem conheceu o Coração do Ramiscal antes e depois do incêndio de Agosto de 2006.

    De facto conheço à mais de 25 anos este paraíso e nunca mais o Ramiscal foi o que era depois deste violento incêndio.

    Dizia Miguel Dantas da Gama,conhecido e reputado ambientalista,grande conhecedor do Ramiscal,em entrevista ao DN no dia 11 de Agosto de 2006;

    "A mata do Ramiscal,um dos dos três núcleos que compõe a Zona de Protecção Total do PNPG,era um dos últimos redutos de floresta autóctone,essencialmente composta de carvalhal-negral(...).Poderá também ter-se perdido a maior mancha de azevinho do País.(...)Trata-se da área central do território da ultima águia-real do PNPG,o que nos remete para outra historia lamentável.Este ultimo exemplar da maior das nossas águias vê seriamente afectada toda a zona ocidental da serra da Peneda de que depende...."

    Não foi levado a sério,foi até alvo de violentas criticas,que um dia poderei postar no meu blogue.

    Não compreendo os argumentos,quase todos baseados em estudos centificos,com base de que os fogos são benéficos a áreas como esta e que o fragil ecossistema recupera em poucos anos.

    Não estou de acordo!

    Penso que não se deve desvalorizar e desclassificar os argumentos das populações locais com saberes e conhecimentos ancestrais da Serra em relação a estas situações.
    Bem certo que a flora começa a recuperar lentamente,mas a fauna foi seriamente afectada,em particular a aquática e ainda hoje o Rio do Ramiscal permanece morto.Já para não referir a perda do imenso património arvoristíco milenar.

    Visitei o coração do Ramiscal logo apôs o incêndio e a desilusão foi total ao ver tudo carbonizado.Regressei e enviei e-mails para ICNB,PNPG a relatar os factos por mim presenciados,ao qual me responderam amavelmente a agradecer a minha preocupação e que estavam ao corrente de tudo.
    Passados estes anos todos tenho verificado que nada foi feito por esta ZPT e continua uma ferida a sangrar sem cura à vista.

    É com enorme alegria que vejo que a águia voltou ao local da sua criação,não sei se a mesma,mas o que é facto é que a águia-real nidificava no Ramiscal,numa fraga chamada poço do ninho da águia,felizmente já visitado por mim várias vezes.

    Muito mais haveria a comentar sobre o misterioso Ramiscal...

    Visitarei o Ramiscal em breve...

    Abraço,
    João Dias

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  2. Olá João!

    Deves de ser das poucas pessoas de fora que conhecem tão bem o Ramiscal! Nesse aspecto és um afortunado, mas também deves de ter sofrido muito depois daquele incêndio!Lamento muito...Lamento também por saber que nada têm feito por esta zona!!! Aliás nem dá para perceber muito bem como é possível o fogo chegar a zonas como estas!Quer se dizer, possível é, mas era perfeitamente evitável. Lá perto existe casas florestais totalmente ao abandono! Os guardas florestais eram muito úteis, foi uma autêntica parvoíce terem eliminado tudo!E ainda este ano que passou, outra mata que foi afectada, a do cabril por exemplo!
    Compreendo a tua "revolta" em não concordares com os fogos que são benéficos em locais como este. Também concordo contigo, embora sabendo que o ecossistema recupera, que ninguém me convença que será o mesmo, pois não acredito.
    Tenho um grande respeito pelas populações locais e não me esqueço nunca de uma frase que um tal Sr.António me disse na Branda do Alhal " A vida não se aprende só a ler, mas sim a viver". Delicio-me a conversar com a gente da terra, e aprendo muito!
    Em relação às águias que vimos, sinceramente não sei te dizer se será a águia-real do parque, mas já é um bom prenuncio!
    Adoraria saber mais sobre este misterioso local, gostaria muito que partilhasses a tua sabedoria. Não conheço esta mata, só passei ao lado da mesma, mas dizem que é muito difícil dar com a entrada!E deve de ser, aquelas escarpas são imponentes!

    Foi um prazer este bocadinho!
    Abraços!

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  3. Olá Lírio, Olá João.

    É um prazer ler os vossos comentários e constatar o vosso gosto pelo PNPG, em particular pelo Ramiscal.
    Para mim, o Ramiscal é uma espécie... floresta encantada!
    Inacessível e proibida. Um santuário dentro de um santuário.
    Obrigado pela vossa partilha!

    Beijinhos e abraços montanheiros!
    Jorge Sousa

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  4. É sempre um prazer partilhar! Principalmente quando se trata destes belos locais, de Santuários naturais!

    Beijinhos!

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